quinta-feira, 10 de março de 2011

Introdução do livro de Javier Saviola

Achei curioso partilhar convosco a Introdução do livro do Javier, escrita por Luís Miguel Pereira, o escritor da Autobiografia. Para que não restem dúvidas, o livro foi escrito por Luís Miguel Pereira, mas tudo foi dito por Javier Saviola!

"Uma Luz iluminando o Tejo"

"Oito em ponto. O sol já se escapou pelas traseiras do rio Tejo. Nem os olhos mais focados alcançam toda a água que se estende na linha do horizonte. Deslumbrante paisagem.
É o cenário que Javier Saviola vê todas as manhãs quando abre as cortinas de casa, em Lisboa.
Aperto o botão da campainha. Timidamente. Não há razões óbvias - experiências passadas seriam o bastante para me tranquilizar -, mas confesso algum nervosismo. Dentro de instantes estará na minha frente a maior estrela estrangeira que já passou pelo campeonato português. Dentro de instantes inicío a longa e herculeana tarefa que é escrever a autobiografia de um craque do futebol mundial. Um orgulho carregado de responsabilidade. Será o livro mais importante da minha vida. Segundos antes da porta se abrir tudo isto circula na minha cabeça.
É Diego Queiruga quem me recebe. Já conheço o afável e super profissional representante de Saviola. Dois passos adiante esta Javier. Calças de fato de treino, t-shirt e ténis. As medidas parecem ser todas "S". Javier é uma "amostra" de gente. Pequeno e magro. Pouca envergadura e com rosto de criança. Apertamos as mãos. Aponta-me o caminho da sala. É lá que salta, delirante, um cão amarelo de nome Dalí, a sombra de Javier há vários anos. Com o evoluir da conversa desaparecem todos que me assaltaram após apertar o botão da campainha. Esqueço-me que aquele homem, com cara de miúdo, já jogou nos melhores clubes do mundo, ao lado das maiores estrelas do futebol.
A história de Javier - que eu já conhecia por alto - e, principalmente, o contacto directo que tive com ele, convenceram-me sobre a possibilidade de se ser estrela com os pés no chão.
Javier continua a inquietar-se com os elogios e a dispensar as palmadinhas nas costas. Prefere ver consideradas as qualidades humanas em vez das profissionais.
Humilde, simples e disponível. Javier é tudo isto. Tudo o que, normalmente, não é compatível com o estatuto de estrela.
Javier contraria a tendência com a mesma classe que usa para "chapelar" a baliza dos doutores de Coimbra.
Terminada a primeira conversa, desliguei o gravador, apertámos as mãos e o craque saiu da sala por momentos. Diego olhou-me e exclamou: "Luís, não é nada normal ver o Javier tão falador. Ele é muito tímido. Acho que o conquistaste."
Era o melhor troféu que podia levar daquela casa. Apertei a mão ao protagonista da história, dei um abraço ao Diego, afaguei o pêlo do Dalí e saí. Eram quase dez. Abri a porta do prédio, olhei o grandioso rio e pensei: como e pode ser imenso sem se ser complexo. A noite tinha dado outro brilho às águas, agora prata... ou seria o reflexo da luz de Saviola?"

[Luís Miguel Pereira, Lisboa, Maio de 2010]

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