terça-feira, 15 de março de 2011

Sabias que...

Sabias que o Javier era um autêntico "menino da mamã" e não tem vergonha nenhuma, antes pelo contrário, sente orgulho por o ter sido?

Pequeno excerto do livro de Javier Saviola:

"Fui criado entre algodões. Lembro-me de que dormi no quarto dos meus pais até aos quatro anos de idade. Mary e Cacho eram a minha sombra. Talvez porque o passado recente ainda pesava toneladas na memória de todos. Não tenho vergonha de o dizer, pelo contrário, tenho enorme orgulho: eu era um verdadeiro menino da mamã. Até sair para o Barcelona, o meu despertar era um beijo da minha mãe acompanhado da bandeja do pequeno almoço na cama.
Vivíamos numa casa humilde, o número 1880 de uma rua com um nome que hoje soa irónico: calle Dragones.
Recordo-me de que estava sempre a entrar e a sair gente. Éramos oito lá em casa. Lotação esgotada! A tia Gregoria, o tio Nancho e o meu primo Juan Manuel, além dos meus pais e da minha avó. Por vezes também aparecia o tio Manolo, o compincha do meu pai nas bancadas dos estádios de futebol. Eu era o "mais que tudo" da companhia. Todos me apaparicavam por ser filho único.
A mãe conta que desde cedo percebeu a minha queda para o futebol. Primeiro porque sofreu muito com os meus pontapés de bicicleta na placenta e, mais tarde, porque percebeu que a única forma de me manter quieto no momento de tirar fotografias era dar-me uma bola para as mãos. Mais tarde foi o meu amigo Alejandro Corrales - que foi e é tudo para mim - o primeiro a dizer-me que eu iria longe no futebol. Acho que não se enganou!
Alejandro era meu amigo. Convivemos desde os três anos de idade, frequentámos as mesmas escolas e jogámos nas mesmas equipas até aos 16 anos. O Alenjandro foi o meu irmão adoptivo, até porque ambos éramos filhos únicos. Tornou-se o meu protector. Ai de quem se metesse comigo! Impunha imediatamente o físico bem mais alto e mais forte do que o meu, para o que também não era preciso muito.
Alejandro controlava todos os meus passos, como um irmão mais velho, apesar de termos a mesma idade.
Mas o que recordo com muita intensidade na minha infância são as histórias da avó Casiana. A voz terna e doce da nona, somada ao embalo da velha cadeira, fazia-me invariavelmente cerrar os olhos e sonhar com aquele país. Não foram raras as vezes em que dei por mim melancólico e nostálgico, como se Espanha fizesse parte das minhas raízes mais profundas. Talvez por isso, quando fui obrigado a escolher o meu futuro fora da Argentina, e perante várias propostas da Europa, não tive dúvidas em optar pelo país das histórias da nona."

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