Sabias que o jogo do título foi, para o Javier, impressionante?
Pequeno excerto do livro de Javier Saviola:
"Na véspera do jogo não tive dificuldade com o sono. Durmo sempre bem, seja em que circunstância for. A este propósito, aconteceu uma coisa diferente que, de certa forma, nos alterou a rotina: como o jogo foi às 18:00 horas, eu não pude dormir a minha religiosa sesta. Nessa manhã não treinámos, descansámos até mais tarde. Depois almoçámos e durante a tarde, até à partida do autocarro rumo ao estádio vivemos uma espera angustiante. Os minutos não passavam, o ponteiro parecia bloqueado.
Finalmente embarcámos no vermelhão, deixámos o hotel e rumámos à Catedral. O título estava cada vez mais perto. O sentimento de pertença aumentava na proporção da ansiedade. À medida que nos aproximávamos do estádio, víamos cada vez mais gente nas ruas. Na última curva, antes da entrada para o parque subterrâneo, não queríamos acreditar: era um mar de gente!
O motorista teve dificuldade em fazer passar o autocarro por entre a multidão. Olhámos uns para os outros e comentámos: "Hoje não é possível acontecer outra coisa que não a festa, não podemos desiludir toda esta gente."
Esse sentimento ampliou-se quando entrámos para o aquecimento. 64.103 adeptos rompiam as gargantas pelo Benfica. Que ambiente! Fizemos a tradicional roda no relvado e o Luisão tomou a palavra: "Depois desta temporada incrível que fizemos, com tanto esforço e sacrifício para chegarmos até aqui em primeiro lugar, hoje é ganhar ou... ganhar!" Luisão foi claro e firme. Aquelas palavras bateram-nos no peito como dardos. O Girafa foi sempre um verdadeiro capitão ao longo da época. Transmitiu força e confiança em todos os momentos. Mas naquele instante, em que estávamos prestes a jogar uma época inteira, as palavras dele foram ainda mais certeiras.
Embalámos para uns primeiros 10 minutos de grande nível. Abafámos o adversário e marcámos. Foi fundamental para serenar a equipa. No entanto, e por paradoxal que pareça, o pior que nos podia ter acontecido era a expulsão de um adversário. Aconteceu. De um momento para o outro, o Rio Ave fechou-se, uniu-se e dificultou-nos muito a tarefa. Bloqueámos. Confesso que uma estranha inércia tomou-nos os movimentos. Sentimo-nos presos. Foi bem mais difícil jogar contra 10 do que contra 11.
Em nenhum momento do jogo receei não ser campeão. No entanto, quando o Rio Ave empatou, fiquei desconfiado. Eu e toda a equipa. Olhámos uns para os outros e ficámos sem perceber bem o que estava a acontecer. Incrível o silêncio que se fez no estádio após o golo do empate. Incrível! Nunca tinha assistido a um momento daqueles. Mais de 60 mil pessoas... mudas. De resto, para mim o jogo teve dois momentos marcantes. Esse, pontuado pelo silêncio no estádio, e a explosão de alegria quando o Nacional fez o 1-0 ao Sporting de Braga. Sentimos claramente a festa nas bancadas. No relvado não tivemos dúvidas que as notícias eram boas para nós, só não sabíamos qual era o resultado.
Felizmente serenámos o nosso jogo e conseguimos ter mais tempo de posse de bola. Nos minutos finais fiz uma coisa que não é de todo meu hábito: olhei várias vezes para o tempo de jogo no placar electrónico. Foi mais forte que eu."
Adoro esta rúbrica do "Sabias que..."!
ResponderEliminarÉ bom ver que o Saviola se impressiona com o Benfica, quando já jogou no Real Madrid e no Barcelona!
Fantástico!! Arrepiante! Adorei <3
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