quinta-feira, 31 de março de 2011

Entrevista a Javier Saviola - Parte I

O nosso convidado de hoje é conhecido internacionalmente como "El Conejo". Jogador de elevada qualidade, de uma grande dimensão humana. Começou por se destacar no River Plate com ainda 16 anos, mas tarde ingressou no Barcelona e posteriormente no Real Madrid. Pelo meio esteve no Mónaco e no Sevilha, clube onde acabou por vencer uma Taça UEFA. Foi campeão do mundo sub-20 pela selecção da Argentina e em boa hora o Benfica o conseguiu resgatar ao Real Madrid, tendo chegado ao nosso clube em Junho de 2009. Bem vindo Javier Saviola à Benfica TV!
- Olá. Muito obrigado.
Saviola, conte-nos lá como é que surgiu o convite para vir para o Benfica.
- Bem, o primeiro contacto para vir para o clube foi com o Pablo Aimar, ele já estava cá há um ano. É verdade que haviam outros clubes interessados em mim, mas o Pablo disse-me como era clube, o sentimento que tinham os adeptos pelo Benfica e poder voltar a encontrá-lo depois de 10 anos, porque começamos juntos a jogar no River, sempre tínhamos a vontade de voltar a juntar-nos. Não só no futebol mas também como pessoas porque ele é um grande amigo meu. Foi ele o grande responsável por eu estar cá. Depois também falei com o Rui Costa, também ele me convenceu, falou muito bem do clube... Perante tantas coisas pensei mais sério. Tive a possibilidade de falar com a minha família, concordaram e viemos para o Benfica.
O nome Benfica dizia-lhe alguma coisa?
- Sinceramente, quando falaram em Benfica, ao início sabia que estava entre os grandes de Portugal mas nunca tinha visto a dimensão daquilo que era. Quando cheguei cá dei-me conta disso, ao ver por mim próprio.
Algum dia lhe passou pela cabeça jogar no campeonato em Portugal?
- Não. Eu acho que nós, os jogadores de futebol, nunca sabemos onde vamos estar. Andamos para um lado e para o outro. Dificilmente alguém pode prever que no futuro pode estar num clube ou noutro. Posso vir a jogar num clube grande, um jogador de futebol nunca sabe. Nunca imaginei que pudesse estar aqui no Benfica nem no futebol português. Assim como nunca imaginei poder estar num clube como o Barcelona, Real Madrid. Foram coisas que foram acontecendo...
Mas tem noção que o campeonato português, e nomeadamente o Benfica, contribuíram muito para a sua reabilitação futebolística, reabilitação no sentido figurado normalmente, porque você é um grande jogador em qualquer lado, mas o Benfica contribuiu muito para voltarmos a ver o grande Saviola.
- Sim. Encontrei um treinador que me deu muita confiança, companheiros que brindaram o meu futebol, acho que aconteceram muitas coisas para que eu possa estar num nível alto. No Real Madrid não jogava muito. O ter vindo para cá, em termos de futebol fez de mim um jogador completamente feliz, estando num clube em que as coisas estão a correr muito bem.
Quando as coisas estavam para acabar em Madrid, sei que teve muitos convites na altura. Por que é que optou por vir para o Benfica?
- Sim... Havia clubes que estavam interessados. Mas, como tinha referido antes, o facto de voltar a encontrar-me com o Aimar e depois o Rui Costa ter demonstrado um interesse muito grande em que eu viesse, começar a relacionar-me com o que o Benfica é, perguntar às pessoas. Foram muitas coisas. A partir do momento em que cheguei, apercebi-me da grandeza deste clube.
Saviola, o Aimar teve um peso, já percebemos, muito importante no ingresso aqui no Benfica e também sei que era ele que lhe dava boleia para vir para os treinos no início. Ainda é assim ou não?
- Sim, sim. (risos) Nós temos uma amizade muito grande para além do futebol, para além do entendimento que temos dentro de campo, ele sempre foi como um irmão mais velho, é assim que lhe chamo. Ele é dois anos mais velho que eu e quando estávamos no River eu ainda era muito jovem e ainda não podia ter carta de condução era ele que me levava aos treinos. Como ele vinha de fora, ele não é de Buenos Aires, costumava ficar em minha casa, dormia em minha casa e comia com a minha família. Sempre tivemos uma amizade muito bonita. Para além do que é o futebol, também.
Depois o Saviola chegou ao Benfica e percebeu que de facto estava num grande clube mundial, com uma imensa massa adepta... Como é que o Saviola viveu os primeiros tempos no Benfica?
- No princípio, fiquei surpreendido com tudo. Como referi antes, nunca pensei que fosse um clube tão grande mundialmente. Talvez aqui em Portugal... Sabia que o Benfica, o Porto e o Sporting são os maiores clubes. Um clube demonstra quando é grande quando vamos a um país. Por exemplo, quando fomos a França e havia cerca de 20 mil a animar a equipa e na verdade, aí apercebemo-nos da dimensão. Quando fomos campeões e vimos tanta gente reunida no centro de Lisboa... São situações que nos fazem perceber o que é verdadeiramente este clube. 
E isso surpreendeu-o de alguma forma? Ou estava à espera que o Benfica fosse isso mesmo?
- Surpreendeu-me! E surpreendeu-me positivamente. Surpreendeu-me a massa adepta, as pessoas, o seu fervor, o que cada adepto vive interiormente cada vez que vem ver um jogo... surpreenderam-me muitas coisas.
Há muita diferença entre os adeptos, por exemplo, da Argentina e do Benfica? Sei que na Argentina os adeptos são muitos fervorosos. 
- Sim, bem, na Argentina... Nós quando vamos para fora aconselhamos sempre as pessoas a irem à Argentina e assistirem a um River-Boca ou só para verem o sentimento dentro de um estádio, é inigualável. Ás vezes, estranho. Aqui em Portugal também acontece algo parecido, mas em Espanha ou noutros países vive-se o futebol de uma maneira diferente, parece que as pessoas se dirigem aos estádios para ir ver um teatro ou algo parecido. Na Argentina as pessoas têm mais fervor... Há pessoas que não vêem o jogo, estão de costas para o campo e virados para a gente apenas para animar o público. Na verdade, essas coisas são inigualáveis.
Quando chegou ao nosso plantel já conhecia, tirando o Aimar, algum outro jogador? Surpreendeu-se com a qualidade do plantel do Benfica, com a relação humana que havia dentro do balneário? Como é que foi entrar no balneário do Benfica?
- Sim... No início, bem... Sempre que alguém vem de fora, às vezes é complicado porque não sabemos que companheiros se podem encontrar ou a classe de gente que pode haver no balneário ou como te podem tratar. Aqui no Benfica encontrei um grupo humano muito bom, tanto os portugueses que faziam parte do clube, como há muitos brasileiros... Em quase todos os balneários se formam grupos. Por vezes um grupo relaciona-se mais com outro grupo. Mas aqui no Benfica damo-nos todos muito bem. Sempre tivemos uma relação muito boa e isso talvez é o mais surpreendente porque não acontece em todo o lado que a equipa seja tão unida.
Se eu lhe pedisse para realçar uma característica, qual é que era a principal característica que realça do plantel do Benfica?
- Hum, eu considero a humildade. jogadores de elevado nível e muito humildes, como o Maxi Pereira, ou Fábio Coentrão. São jogadores que jogaram em mundiais, que são conhecidos internacionalmente, que têm uma trajectória, como o Nuno Gomes, o Pablo Aimar, como... não sei... Óscar Cardozo... É um plantel muito rico e com pessoas muito humildes. Isso é importante porque se encontrares um grupo, e por aí há muitos, em que o plantel é muito forte tecnicamente dentro de campo, mas o relacionamento não funciona fora dele, é complicado. Mas quando há um grupo que funciona bem tecnicamente e depois também há a humildade, faz com que as coisas corram muito melhor.
Isso é o plantel, mas para haver um bom plantel, com essas características que disse, têm de ser bem comandados. Jorge Jesus tem feito um excelente papel nesse campo, não?
- Sim. Sim, tem de haver um bom treinador...
Você que foi treinado por grandes estrelas mundiais, como é que vê...
- Sim, por isso referi antes que tem que haver sempre uma pessoa que saiba comandar bem o grupo. Podes ter os melhores jogadores do mundo, mas se não houver uma pessoa que comande realmente bem o grupo, é muito difícil. Nós temos uma pessoa capacitada para comandar um grupo, temos um bom relacionamento com ele, sabe muitíssimo de futebol. E isso é muito importante. E estou convencido que tudo corre bem. 
Você disse que a humildade é a principal característica deste plantel. E da equipa técnica, o Jorge Jesus, qual é a principal característica que ele tem?
- Eu acho que é a ambição. É uma pessoa muito ambiciosa, uma pessoa que tem em mente apenas ganhar. Que se preocupa com a equipa e que a equipa na defraude os adeptos. Procura que a equipa cumpra sempre o objectivo. E isso um treinador transmite-o aos seus jogadores. Por isso acho que é importante que um treinador reúna todas essas características. 

CONTINUA!...


Parte I da entrevista a Javier Saviola, transmitida na Benfica TV no programa "Zona de Decisão" no dia 28-03-2011.
Gostaria que não copiassem sem pedir autorização pois foi tudo escrito por mim, algumas expressões foram traduzidas por mim. Tive muito trabalho com isto, por isso peço que ao retirarem ao menos dizer que o vão retirar. 
Obrigada, a administradora.

4 comentários:

  1. ohhh, quero ler o resto *.*
    quando publicas a segunda parte da entrevista? :)

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  2. só amanhã? :o
    eu quero tanto ler a segunda parte *.*

    mas pronto. fico à espera! :)

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  3. sim, dá muito trabalho :s
    a entrevista é quase 1h, e todo este texto que publiquei hoje foram só 10min da conversa, ainda tenho muito que escrever :x

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