* A Bola
Os adeptos do Benfica estão em estado de choque. À forma sistemática como o FC Porto tem arrasado, esta época, as pretensões do clube, juntou-se a confirmação da conquista do título, pelos dragões, em pleno Estádio da Luz e, agora, a eliminação da final da Taça de Portugal, apesar da vantagem, que parecia segura, de dois golos sem resposta, no Dragão.
Impreparados para o sentimento de humilhação a que foram submetidos por um FC Porto intratável e manifestamente superior, os benfiquistas reagiram de maneira diversa. A maioria nunca chegou a recuperar a confiança que tão efusivamente demonstrou na época passada e preferiu acompanhar de longe, quase diria pelo canto do olho, os desenvolvimentos da equipa, desde que ela conseguiu a proeza negativa de perder três dos primeiros quatro jogos do Campeonato. Muitos outros sucumbiram, totalmente, depois da goleada histórica de 5-0, no Porto. Alguns, mais resistentes, acabariam por deitar a toalha ao chão, depois de verem o Benfica afastado da Liga dos Campeões por uma modesta equipa de Israel.
Ficaram, apenas, os incondicionais, o que de acordo com a tradição da cultura do Benfica eram, manifestamente, muito poucos.
O que mudou da época passada?
Não se pode dizer, portanto, que o Benfica tivesse podido contar com o apoio dos adeptos, nesta época de má memória para o clube da águia. A equipa sentiu-se muitas vezes sozinha numa luta cruel pela reconquista do capital de confiança, as coisas melhoraram com a carreira na Liga Europa, deixaram antever o sol, na vitória, no Dragão, para a Taça, mas o mundo desabou definitivamente nestas últimas jornadas de consagração portista no 'castelo inimigo'.
Ora o adepto do Benfica quer, legitimamente, saber o que mudou da época passada para esta. O clube tinha perdido Di María e Ramires, substituiu-os por Gaitán e por Salvio, que foram sempre considerados dos melhores, esta época. Mandou embora Quim, porque era baixo, e foi buscar Roberto, que é um rapagão bem constituído. É verdade que deixou sair um dos seus melhores jogadores - David Luiz - na época de Inverno, mas nessa altura todos já tinham percebido que o Benfica já tinha perdido o campeonato e as maiores expectativas internacionais da época.
Começo de época desastroso
Tendo a convicção de que, no essencial, a equipa manteve a sua estrutura base, a maioria virou-se para o treinador. Jesus não podia deixar de ser o culpado. Ele e os árbitros ou, para aqueles mais contestatários do mundo do futebol, os árbitros e ele.
Jesus reagiu mal a essa ideia que foi sentindo, de forma tão óbvia, quanto injusta. Ele tinha dado um título ao Benfica, rompendo a hegemonia incontestada do FC Porto e, no entanto, já ninguém lhe agradecia o feito.
A verdade é que o próprio Jorge Jesus, homem que vive o futebol vinte e quatro horas por dia, terá equacionado o que verdadeiramente teria provocado esta súbita e dramática alteração no comportamento global da equipa. Ninguém sabe se chegou a conclusões concretas, mas aqueles que lhe estão mais próximos certamente que o ouviram falar dos erros de um começo de época desastroso, para o qual nem Jesus, afinal, estava preparado para enfrentar.
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