terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrevista a Javier Saviola - Parte V

 CONTINUAÇÃO!

E dentro de campo, como é que é o Saviola? Emocionalmente...
- Dentro de campo...
Quando as coisas, por exemplo, não correm bem, você tem força interior... Vocês falam com a vossa alma para conseguir superar as coisas? Como é que fazem?
- Sim, eu acho que um jogador de futebol, aquele que está num nível alto é porque tem esse poder de saber ultrapassar as coisas que não são boas dentro do futebol. E de quando as coisas correm mal ele sair fortalecido. E também fora do futebol...
Como é que se supera a pressão?
- Supera-se com amigos... Com aqueles que sabemos que são amigos verdadeiros. Com a minha mãe. Quando aconteceu aquilo com o meu pai, que foi o momento mais duro dentro da minha carreira, onde as coisas foram muito difíceis, aí apoiei-me muito na minha mãe. Estávamos os dois sozinhos e é nesses momentos que te sentes agradecido por teres um familiar directo e que seja importante na tua vida.
E dentro do campo, onde esses amigos às vezes falham, como é que vocês, sozinhos, têm os colegas naturalmente, mas por vezes sozinhos têm de passar esse momento em que por vezes as coisas não saem bem e o público às vezes impacientemente assobia... Como é que vocês conseguem dar a volta?
- É difícil, por vezes não têm noção o que é estar dentro de campo, pensam que é simplesmente correr atrás de uma bola mas é muito complicado. Como disse antes, uma pessoa tem de passar muitas coisas... Às vezes nem é uma questão futebolística, existem coisas na vida pessoal que as pessoas desconhecem e se queremos estar num nível alto temos que pensar um bocado friamente. Teremos de pensar que temos de estar bem para beneficiar a equipa, não nos podemos desfavorecer frente ao adversário, muito menos no nosso nível.
Achas que os adeptos do Benfica são muito exigentes?
- Isso requer estar num clube grande. Eu tive a sorte de estar em grandes clubes e a maior parte dos clubes onde estive, os adeptos têm pouca paciência. Mas é normal porque passaram tantos e bons jogadores ao longo da história... Ganharam tantos campeonatos que as pessoas pedem sempre mais. Se conseguires ganhar hoje, amanhã, as pessoas querem que ganhes sempre. E há que saber como lidar com isso, como disse antes, há que fortalecer-te nos momentos mais difíceis.
O Saviola começou desde pequenino a jogar, penso que aos 11 anos, aos 16 entra logo como sénior numa equipa como o River Plate. Como é que foi essa ascensão tão rápida para chegar a uma equipa de topo na Argentina? Com 16 anos vê-se numa equipa principal de topo da Argentina...
- Eu digo sempre que nunca cheguei a dar-me conta do sítio onde estava...
Era um fenómeno na altura... Pelo menos para toda a imprensa que o qualificava como um fenómeno, que era um valor imergente do valor do futebol argentino... Como é que foi lidar com isso aos 16 anos?
- Lidava com a maior profissionalidade que podia. Recordo-me que a primeira vez que entrei no balneário, os jogadores mais velhos que estavam lá nesse momento, que teriam aproximadamente a sua idade, olhavam para mim como se eu me tivesse enganado no balneário, porque tinha apenas 16 anos. Mas também foi muito bom que tenha acontecido, porque quando alguém entra no balneário tem que ser humilde nesse momento e saber que acabou de chegar e não pode ocupar o lugar de um que já lá está há muito tempo. Primeiro devemos ouvir os conselhos dos mais velhos e embora eu tivesse ainda essa idade já tinha em plena mente tudo o que queria. Que seria continuar a minha carreira de profissional até ao topo.
E chega à selecção da Argentina. O que é que isso significou para si, quando vestiu aquela camisola?
- Eu acho que qualquer jogador tem esse sonho. Primeiro jogar no clube onde está e depois chegar à selecção. É o mais importante. Foi uma das coisas mais importantes que me aconteceu no futebol. Estar na selecção, poder competir no mundial Sub-20 no meu país, tê-lo vencido. O facto de ter podido também ir aos Jogos Olímpicos, também foram das coisas que mais me marcaram. Uns Jogos Olímpicos, para um desportista, são algo grandioso. Para além disso, o meu sonho maior era jogar num mundial. Sempre desejei sentir o que um jogador sente quando está dentro de campo sabendo que há milhões de pessoas no seu país que esperam o melhor da sua parte, que está a representar o seu país. Foi algo indescritível.
O Saviola, como perceberam,  foi campeão do Mundo pela selecção Sub-20 da Argentina e depois em 2004 foi campeão Olímpico. Que diferenças é que há aqui, são as duas coisas muito boas, claro. Como é que foi viver estas duas grandes competições?
- Eu vivi os Jogos Olímpicos como mais  um desportista. Quando participas nuns Jogos Olímpicos practicamente esqueces-te que és um jogador de futebol, pois estás numa mesa com jogadores de hóquei, andebol, outros desportos com os quais não estás habituado. Encontraste numa situação complicada, não conheces ninguém... Depois acabas por conhecer gente que nunca imaginaste vir a conhecer, como jogadores de basquetebol conhecidos internacionalmente entre muitos outros.
Em 2004 foi campeão Olímpico, recebeu a medalha de Ouro pelas mãos de Diego Armando Maradona. O que é que este jogador significa para si?
- Para todos os argentinos o Maradona é um símbolo. É um orgulho para qualquer argentino receber o prémio das mãos dele. Depois da sua trajectória, de ganhar mundiais, levando o nome do nosso país ao mais alto. Em termos futebolísticos é o mais bonito que nos pode acontecer, uma figura tão conhecida mundialmente e tão importante para todos nós nos entregue um prémio. Foi único.
E também, em Espanha, representou os dois maiores clubes espanhóis: Barcelona e Real Madrid. Que diferenças é que encontrou nestes dois clubes?
- São os dois clubes enormes. Talvez a principal diferença tenha sido estar 6 anos numa equipa e apenas 1 noutra. São duas coisas completamente diferentes. No Barça estive bastante tempo e tive oportunidade de jogar muito mais do que no Real Madrid. Ter vivido numa cidade como Barcelona... A minha passagem por Madrid foi mais tranquila, não tive tantas oportunidades de jogar. Foi uma passagem mais rápida por Madrid. Talvez tenha aproveitado mais no Barcelona.
Depois passou ainda pelo Mónaco e no Sevilha ganha a final da Taça UEFA. O que é que isso significou para si? Era um jogador fundamental na altura.
- Para o Sevilha, nesse momento, essa foi a primeira Taça UEFA, depois arrecadou mais títulos para o clube. Mas nesse momento foi o começo de uma fase de bons resultados. Em Sevilha foi algo único, vivi-o de maneira muito especial. Acho que é em Sevilha que as pessoas vivem com maior entusiasmo o futebol em Espanha. Vivi-o de uma maneira muito intensa. Foi muito bonito estar com os meus companheiros e toda a cidade de Sevilha a partilhar esse momento connosco. No Mónaco foi completamente diferente pois no Mónaco foi mais uma espécie de férias. (risos)
É um local maravilhoso para viver. (risos)
- Sim, fiquei surpreendido, pois estar na cidade, com tantas coisas, parecia que estava num sonho...
Saviola, acha que ainda consegue chegar à selecção argentina ou já é difícil?
- Sei que é difícil... Mas ainda tenho a ilusão de poder voltar. Sei que é complicado mas a ilusão mantém-se sempre. Qualquer jogador procura fazer as coisas pelo melhor para que essa convocatória seja possível, mas sei que actualmente é bastante difícil.
Fazem-nos sinal de que estamos practicamente no fim do programa. Quer deixar uma mensagem final para os Benfiquistas numa altura em que estamos numa fase fundamental de três provas em que o Benfica tem legítimas aspirações a ganhar todas elas. Deixo-o no final do programa.
- Bem, antes de mais queria agradecer a todas as pessoas e a todos os adeptos do Benfica pelo apoio, por nos fazerem sentir tão bem dentro de campo. Pela nossa parte esperemos que corra tudo pelo melhor e que no final da temporada possamos celebrar com vocês. Esperemos também, tanto nós dentro de campo, como vocês cá fora, elevar o clube ao mais alto.
E desta forma chegamos ao final do Zona de Decisão. 

FIM!
Parte V (última) da entrevista a Javier Saviola, transmitida na Benfica TV no programa "Zona de Decisão" no dia 28-03-2011. Peço imensa desculpa pelo tardar desta publicação, mas era-me impossível publicar mais cedo, foi algo que me deu algum trabalho e o tempo era escasso.
Gostaria que não copiassem sem pedir autorização pois foi tudo escrito por mim, algumas expressões foram traduzidas por mim. Tive muito trabalho com isto, por isso peço que ao retirarem ao menos dizer que o vão retirar.
Obrigada, a administradora.

1 comentário:

  1. aiiiiii, ADOREEEEI *-*
    como eu andava ansiosa para ler isto! :D
    muito bom, mesmo!
    excelente trabalho, Soraia :D
    beijinho*

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